Inpa discute impactos de transformar entorno da Reserva Ducke em Zona de Transição
Workshop pretende reunir a sociedade, parlamentares e pesquisadores para alertar que proposta do Plano Diretor de Manaus trará perdas ambientais irreparáveis para Manaus
Por Luciete Pedrosa
O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) realiza, nesta quarta-feira (4), o Workshop com o tema “Reserva Ducke e o Plano Diretor de Manaus”. O objetivo é mobilizar e sensibilizar a sociedade, principalmente os moradores do entorno da reserva, acadêmicos e pesquisadores, para a importância da preservação das áreas verdes em Manaus e discutir o impacto que trará à cidade transformar o entorno da Reserva Florestal Adolpho Ducke em Zona de Transição, proposta pelo atual Plano Diretor de Manaus. O evento é gratuito e acontece das 8h às 17h30, no Auditório da Ciência do Inpa, com entrada pela Rua Otávio Cabral, Petrópolis, zona Centro-Sul.
Segundo o coordenador de Extensão do Inpa, pesquisador Carlos Bueno, a Instituição está preocupada com o entorno da reserva porque se houver uma expansão urbana desordenada poderá acontecer uma grande alteração na fauna, na flora e no clima. “Além disso, devemos lembrar de que a Reserva Ducke possui várias nascentes de igarapés. Será uma perda irreparável para a cidade de Manaus, que corre o risco de perder uma grande área de floresta primária, que é uma espécie de ar-condicionado natural, em plena área urbana”, ressalta Bueno.
O modelo de Área de Transição é caracterizado pela presença de elementos rurais e urbanos, apesar da terra continuar sendo considerada rural. Por apresentar essas características, especialistas apontam que esse tipo de área pode ser urbanizada de forma mais rápida com o avanço do mercado imobiliário. Tal cenário transformaria a reserva, que uma Área de Preservação Ambiental (APA), em um fragmento florestal urbano e colocaria em risco a continuidade da ligação da Adolpho Ducke com a floresta.
A proposta dos organizadores do workshop é que a implantação da Área de Transição seja abandonada. Além disso, reivindicam a realização de novas audiências públicas, com incentivo à participação da comunidade que mora nas proximidades da reserva, por considerarem que o debate sobre o futuro da maior área florestal conservada da zona urbana de Manaus não pode ser reduzido ao parlamento. A sugestão de criação de um comitê em defesa da Reserva Ducke, inclusive, com busca de apoio de organizações ambientais nacionais e internacionais, também deverá ser lançada.
Iniciativa do vereador e presidente da Comissão de Legislação Participativa da Câmara Municipal de Manaus (CMM), Professor Bibiano (PT), o workshop é organizado pelo Inpa em parceira com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado do Amazonas (CAU/AM) e Instituto Amazônico da Cidadania (IACI).
Para o vereador professor Bibiano (PT), o evento oportunizará a efetivação de um direito que a população possui de saber e discutir os impactos que terão sobre suas vidas e das futuras gerações ocasionados pela retirada da cobertura vegetal do entorno que serve como ponte entre a reserva e o restante da floresta amazônica. “Como apontado por estudiosos, esses impactos são trágicos não somente para a nossa cidade, mas para toda a humanidade, uma vez que a vida do planeta é um todo e não parte fragmentada de uma existência e a floresta Amazônia possui grande importância nesse contexto. Sendo assim, convidamos todos a participar”, frisou.
Veja aqui a programação do evento.
A Reserva Florestal Adolfo Ducke é a mais antiga base de pesquisa do Inpa. Localizada no Km 26 da Estrada Manaus-Itacoatiara (AM-010), a Reserva conta com 10.072 hectares e serve como suporte há mais de 50 anos para todos os segmentos das pesquisas do Inpa e de outras instituições nacionais e internacionais. Graças à iniciativa do Inpa, hoje a cidade de Manaus pode se considerar privilegiada por ter, em pleno século XXI, uma grande área de floresta primária preservada.
Com a expansão da cidade de Manaus em direção ao norte, a Reserva vem sofrendo um contínuo processo de fragmentação e isolamento, havendo hoje poucas oportunidades de mantê-la conectada às extensas florestas contínuas que existem na região. Este isolamento é causado pelo desmatamento, ocupações irregulares, extração ilegal de areia, e pela expansão urbana, que hoje se encontra bastante ativa principalmente a leste da reserva.
Para mais informações sobre a biodiversidade amazônica presente na Reserva Florestal acesse aqui, um livro organizado pelos pesquisadores Márcio Luiz de Oliveira, Fabrício B. Baccaro, Ricardo Braga-Neto e William E. Magnusson.
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