Cultivo do Camu-Camu
Aspectos gerais
O camu-camu, caçari, ou araçá-d'água (Myrciaria dubia H. B. K. (McVough) é um arbusto ou pequena árvore, pertencente a família Myrtaceae, disperso em quase toda a Amazônia, encontrado no estado silvestre nas margens dos rios e lagos, geralmente de água preta. Em seu habitat natural a planta pode permanecer submersa por 4 a 5 meses. Apesar do camu-camu ser fruto de alto valor nutritivo, o mesmo é praticamente ignorado pelos cablocos da região, os quais quando muito, o utilizam como tira-gosto ou isca para peixe, sendo este o principal dispersor das sementes.
A árvore frutifica entre os meses de novembro a março. Na terra firme, onde o camu-camu tem demonstrado boa adaptação, a floração ocorre durante praticamente o ano inteiro, sendo que os menores índices de produção ocorrem entre os meses de abril a julho.
Em 1980, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia colocou o camu-camu na lista de prioridades de trabalho, entre as espécies frutíferas nativas da região com potencial e desde então, estudos vem sendo desenvolvidos: propagação (via semente e assexuada); floração e frutificação; espaçamento e adubação; tratos culturais; maturação e processamento de frutos. Tais pesquisas visam a utilização do potencial do camu-camu, de forma a não só contribuir para a melhoria da dieta da população como também gerar divisas para a região.
Propagação
O camu-camu normalmente é propagado por sementes. Estas devem ser obtidas de plantas sadias de alta produção e com frutos de bom tamanho. As mesmas devem ser extraídas de frutos em um mesmo estágio de maturação, pois desta forma pode-se conseguir uma maior uniformidade na germinação.
Logo após a sua extração, as sementes devem ser lavadas e semeadas imediatamente, uma vez que não toleram grandes perdas de umidade, sem que sua viabilidade seja afetada. Contudo, se não forem semeadas em poucos dias após a colheita, é recomendável que depois da lavagem, sejam tratadas durante 15 minutos em uma solução contendo uma medida de "água sanitária" para quatro medidas de água comum e secas à sombra por 24 horas. Em seguida, as sementes devem ser tratadas com um fungicida tipo pó seco e então acondicionadas em sacos plásticos duplos, mantidos a 20ºC ou temperatura ambiente. Desta maneira as sementes podem ser armazenadas por até seis meses, com pequena perda na taxa de germinação, havendo a necessidade de revisões periódicas, a fim de detectar possíveis ataques de fungos, o que levaria a um novo tratamento das sementes.
A semente pode ser feita em areia, terriço ou serragem semi-curtida. Atentando para as recomendações iniciais, as sementes germinam com facilidade e quando as plântulas atingirem por volta de 8 cm de altura, estas devem ser repicadas para sacos pretos de polietileno, contendo uma mistura de 3 a 5 partes de terriço para um de esterco animal, bem curtido.
Quando as mudas atingirem de 8 a 12 meses de idade, estas podem ser levadas ao campo definitivo ou se preferir, dispondo de plantas selecionadas, as mesmas podem ser enxertadas, com o que se tem a garantia de uma boa produção. As enxertias dos tipos garfagem com fenda lateral e garfagem lateral simples possibilitam bons índices de pegamento.
Plantio e cuidados no pomar
Para o plantio em campo definitivo, devem ser abertas covas de preferência, com 40 x 40 x 40 cm, espaçadas de 4 x 4 metros. Nesse momento, poderão, ser misturadas nas covas de 10 a 15 litros de esterco bem curtido e mais 100g de superfosfato triplo. Após o primeiro ano do plantio, podem ser colocados ao redor da planta, anualmente, 10 litros de esterco, 150 gramas de superfosfato triplo e mais 100 gramas de coleto de potássio. Considerando que o camu-camu é uma planta que ocorre em áreas periodicamente alagadas, é aconselhável a prática de cobertura morta (resto de capina ao redor da planta) que aumenta a disponibilidade de água e ajuda no seu desenvolvimento.
Colheita
O camu-camu normalmente inicia sua produção após 3 anos do seu estabelecimento em campo. A colheita é feita manualmente, 2 a 3 vezes por semana. Quando para consumo imediato, os frutos podem ser coletados completamente maduros. Entretanto, para que sejam transportados por longas distâncias é melhor coletá-los meio verdes, pois resistem melhor a viagem. Em um plantio bem estabelecido, com um espaçamento de 4 por 4 metros, pode-se esperar uma produção de 10 toneladas de frutos por hectare/ano. Para a comercialização, os frutos podem ser acondicionados em pequenos cestos de cipó ou engradados de madeira (que não devem ultrapassar 20 cm de altura), tendo o cuidado de não colocar um número excessivo de frutos sobre os outros para não prejudicar sua qualidade.
Usos e valor nutritivo
Os frutos de camu-camu são globosos, 10 a 32 mm de diâmetro, de coloração vermelha ou rósea e roxo escuro no estágio final de maturação. Dada a elevada acidez, estes dificilmente são consumidos na forma natural. Na Amazônia peruana, onde é bastante consumido, é utilizado para o preparo de refresco, sorvete, picolé, geléia, doce, licor, ou para conferir sabor a tortas e sobremesas.
A grande importância do camu-camu como alimento é devido ao seu elevado teor de vitamina C (2606 mg por 100g de fruto), superior ao encontrado na maioria das plantas cultivadas.
Beneficiamento
Quando a produção de camu-camu destinar-se a comercialização em locais distantes, ou quando esta se efetivar durante um longo período, os frutos devem, de preferência, ser processados, ou seja, transformados em polpa congelada.
Para se conseguir um melhor resultado, antes do processamento, os frutos estragados devem ser eliminados e os demais lavados em água limpa e corrente. Para a obtenção da polpa, deve-se dispor de uma despolpadeira convencional, utilizando-se uma peneira adequada (malha de aproximadamente 1 mm), a fim de se obter o "suco concentrado" do camu-camu. O uso do liquidificador (tipo doméstico ou industrial) não é recomendado, pois para o emprego deste equipamento, primeiramente há a necessidade da retirada das sementes, o que nem sempre acontece de maneira precisa, além de que a casca do fruto, adicionada ao produto conjuntamente com as eventuais sementes que passam, conferem um sabor um pouco amargo ao produto, depreciando-o.
Após a obtenção da polpa, esta deve ser resfriada ou congelada o mais rápido possível, pois esta fermenta com facilidade quando mantida a temperatura ambiente. A polpa congelada deve ser conservada em freezer entre 20º e 18ºC, protegida da ação da luz direta e/ou frequente para que o produto se mantenha em condições satisfatórias para um período de um ano de armazenamento.